domingo, 19 de agosto de 2012

Não se atrase (reescrita)

A neblina fraca da noite tecia um tapete branco sobre as escadas do metro. As paredes eram de lajotas claras, as que ainda aderiam à parede estavam tomando um aspecto acinzentado. Os acentos de plastico preto estavam dispostos de trés em trés entre as colunas de sustentação. O chão era de cimento batido e as lampadas perto das escadas piscavam ocasionalmente.
Nos bancos havia uma menina, tinha seus 22 anos mas lembrava uma garota. De cabelos castanhos na altura dos ombros, usava óculos de grau que escondiam seus olhos castanhos claros. Nas mãos um livro de capa vermelha. Ela não era muito alta, mas seus pés alcançavam de leve o chão enquanto ela os balançava impacientemente.
As luzes ficaram mais fracas, tomando um tom amarelado e os trilhos começaram a tremer junto com os cabos de aço. O metro veio diminuindo a velocidade, até parar na plataforma.
Ela esperava aquele momento todos os dias. O penúltimo metro que parava naquela conexão passava cinco minutos antes da meia noite. Todas as noites ele passava por ali naquele horário, e ela podia vê-lo pelo canto dos olhos, ou apenas sentir seu perfume passar suavemente por ela. Sentia-se infantil ao espera-lo ali, ainda porque ela não falara com ele sequer uma vez, mas o impulso de espera-lo era mais forte e sempre vencia.
As portas abriram e ela ouviu os passos na plataforma, porem por pouco tempo. Olhando para seu livro ela ouviu os passos sessarem cedo demais, ninguém havia passado ao seu lado. Ela ergueu o olhar e se deparou com um homem a observando dois metros a frente. Era ele. E sorria descontraidamente, com seu sobre tudo cinza e com uma guarda chuva nas mãos, apesar de ter os cabelos negros molhados.
- Você  de novo por aqui? - ele sentou-se ao lado dela, que começou a tremer - Como é seu nome? - ele esperou a resposta que não veio - Sabe, venho te observando fazem alguns dias, na verdade semanas. Todas as noites você me espera aqui e pega o próximo trem, quando poderia pegar o meu. Posso saber o porque?...Você é sempre quieta assim?
- Quase sempre.
- Não poderia abrir uma exceção? Só por hoje.
- Sou Anne.
- Otávio. Converse comigo.
- Conversar sobre o que?
- Sobre nada. - sorriu.
Ele tinha um sorriso engraçado, um pouco puxado pra esquerda e os dentes eram levemente amarelados, seus lábios eram finos e a pela era levemente morena, ela podia acreditar que aquele era o sorriso mais belo que já vira.  Seus olhos pareciam cansados, tinham cor negra que era intensificada pelas pupilas dilatadas.
Eles conversaram até a chegada do próximo metro. Quando os trilhos começaram a avisar sua chegada ele levantou-se e colocou a mão no bolso interno do casaco, de onde tirou uma rosa branca e a entregou.
- Acho que isso é seu - o metro parou e abriu suas portas.- Acho que é o seu, não vá se atrasar.
Naquela noite o ultimo metro da noite partiu pela primeira vez vazio, e o unico som que se ouvia eram os passos atravessando a neblina nas escadas.

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