domingo, 12 de agosto de 2012

Dias de chuva


Ela traçava o mesmo caminho diário para casa, passando pelas mesmas pessoas e lugares. Nos fones de ouvido o refrão de um musica qualquer. Suas botas perfuravam as poças de água sem ao menos se molhar, pelo seu guarda chuva escorriam o que  era o final de uma chuva fraca e fria.
Tentava não olhar nos olhos das pessoas, não buscava nenhum rosto conhecido, só queria chegar em casa. Mas aquele dia já esta propenso a ser diferente, afinal, não havia dias de chuva previsíveis, não para ela.
- Clara! – alguém gritou seu nome, ela ignorou – Não finja que não esta me ouvindo Clarinha.
Uma mão segurou seu ombro, ela virou-se e viu, era ele. George, no colegial era muito mais que um amigo, mas agora não passava de um conhecido indesejável. Ela gostaria de nunca mais precisar vê-lo.
- Lembra-se de mim? – disse ele
- A vida me seria justa se eu esquecesse. O que quer?
- Sempre gostei do seu jeito de falar. Pensar e planejar sua fala sempre estiveram presentes na sua personalidade. Eu adoro isso.
- Então adore de longe, já lhe disse que não queria mais vê-lo.
- Encare nosso encontro como uma coincidência. Ou talvez uma ironia do destino.
- Se for ironia, é uma de mau gosto, embora eu não acredite que o destino realmente tenha planejado isso.
- E não planejou, venho te observando faz algum tempo. Sabia que passarias por aqui  hoje.
- Você continua com essa mania de perseguição? Por favor, vá embora.
- Preciso falar com você.
- Fale logo, quanto antes você começar mais rápido me despeço de sua presença desagradável.
- Você esta mais arisca do que antes. Vejo que andou aprendendo algumas coisas.
- O que você ia me dizer mesmo? – disse ela furiosa
- Primeiro vamos sair da calçada, essa chuva vai lhe fazer mal.
- Prefiro ficar aqui mesmo, não me agrada a idéia de ficar entre quatro paredes com você. – uma lembrança indesejada veio à sua mente.
- Você ainda esta magoada com o que eu fiz?
- E você ainda pergunta? Seduziu-me, me chantageou, me manipulou e tentou me matar. E você ainda quer saber o porquê estou chateada?
- Quantas vezes eu terei que repetir, eu não ia te matar. Eram apenas remédios para dormir. - ele começou a cochichar como se contasse um segredo- eu era doente e você sabe disso. - ele levou a mão aos cabelos de Clara, que revidou com nojo
- Não me toque – gritou – tenho nojo, horror e ânsias só de pensar em você me tocado novamente.
- Nojo sem motivo, nunca lhe fiz nenhum mal. Não seria capaz...
- Mas quis, aposto que quis- ela queria começar a chorar, mas se conteve – Do mesmo jeito que fez com minha amiga, ou você acha que eu não me recordo?
- Eu não faria isso com você. Clara, você é diferente, eu nunca lhe faria mal algum.
- Então porque tentou me drogar?
- Você estava nervosa, só tentei te deixar mais calma.
- Mentira! Você deveria agradecer o meu silencio e não me procurar nunca mais.
- Você nunca vai se esquecer não é? Do fato de eu ter matado sua amiga, – a chuva ficou mais forte –  você nunca ira esquecer? Eu sou um homem diferente agora – ele sacou uma arma.
- Diferente? – ela estremeceu
- Sim diferente – a rua estava vazia – Não perdôo mais e não deixo testemunhas para trás.
Ele apertou o gatilho acertando-a em cheio. Ela caiu no chão, o seu sangue se espalhava e era dissolvido pela chuva, agora forte. Ele agachou-se ao lado do corpo, que se contorcia em seus últimos segundos de vida.
- Quase me esqueci, obrigada por seu silencio, mas eu andei pensando e é melhor garantir-lo.
Ele levantou-se e saiu andando, deixando-a ao chão. Já não havia mais vida naquele corpo. Ela não chegaria mais em casa, mas talvez não quisesse. Talvez até preferisse morrer a ter que passar por mais dias chuvosos imprevisíveis.

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