Ela traçava o mesmo caminho diário para casa, passando pelas
mesmas pessoas e lugares. Nos fones de ouvido o refrão de um musica qualquer.
Suas botas perfuravam as poças de água sem ao menos se molhar, pelo seu guarda
chuva escorriam o que era o final de uma
chuva fraca e fria.
Tentava não olhar nos olhos das pessoas, não buscava nenhum
rosto conhecido, só queria chegar em casa. Mas aquele dia já esta propenso a ser
diferente, afinal, não havia dias de chuva previsíveis, não para ela.
- Clara! – alguém gritou seu nome, ela ignorou – Não finja
que não esta me ouvindo Clarinha.
Uma mão segurou seu ombro, ela virou-se e viu, era ele.
George, no colegial era muito mais que um amigo, mas agora não passava de um
conhecido indesejável. Ela gostaria de nunca mais precisar vê-lo.
- Lembra-se de mim? – disse ele
- A vida me seria justa se eu esquecesse. O que quer?
- Sempre gostei do seu jeito de falar. Pensar e planejar sua
fala sempre estiveram presentes na sua personalidade. Eu adoro isso.
- Então adore de longe, já lhe disse que não queria mais
vê-lo.
- Encare nosso encontro como uma coincidência. Ou talvez uma
ironia do destino.
- Se for ironia, é uma de mau gosto, embora eu não acredite
que o destino realmente tenha planejado isso.
- E não planejou, venho te observando faz algum tempo. Sabia
que passarias por aqui hoje.
- Você continua com essa mania de perseguição? Por favor, vá
embora.
- Preciso falar com você.
- Fale logo, quanto antes você começar mais rápido me
despeço de sua presença desagradável.
- Você esta mais arisca do que antes. Vejo que andou
aprendendo algumas coisas.
- O que você ia me dizer mesmo? – disse ela furiosa
- Primeiro vamos sair da calçada, essa chuva vai lhe fazer
mal.
- Prefiro ficar aqui mesmo, não me agrada a idéia de ficar
entre quatro paredes com você. – uma lembrança indesejada veio à sua mente.
- Você ainda esta magoada com o que eu fiz?
- E você ainda pergunta? Seduziu-me, me chantageou, me
manipulou e tentou me matar. E você ainda quer saber o porquê estou chateada?
- Quantas vezes eu terei que repetir, eu não ia te matar.
Eram apenas remédios para dormir. - ele começou a cochichar como se contasse um
segredo- eu era doente e você sabe disso. - ele levou a mão aos cabelos de
Clara, que revidou com nojo
- Não me toque – gritou – tenho nojo, horror e ânsias só de
pensar em você me tocado novamente.
- Nojo sem motivo, nunca lhe fiz nenhum mal. Não seria
capaz...
- Mas quis, aposto que quis- ela queria começar a chorar,
mas se conteve – Do mesmo jeito que fez com minha amiga, ou você acha que eu não
me recordo?
- Eu não faria isso com você. Clara, você é diferente, eu
nunca lhe faria mal algum.
- Então porque tentou me drogar?
- Você estava nervosa, só tentei te deixar mais calma.
- Mentira! Você deveria agradecer o meu silencio e não me
procurar nunca mais.
- Você nunca vai se esquecer não é? Do fato de eu ter matado
sua amiga, – a chuva ficou mais forte –
você nunca ira esquecer? Eu sou um homem diferente agora – ele sacou uma
arma.
- Diferente? – ela estremeceu
- Sim diferente – a rua estava vazia – Não perdôo mais e não
deixo testemunhas para trás.
Ele apertou o gatilho acertando-a em cheio. Ela caiu no
chão, o seu sangue se espalhava e era dissolvido pela chuva, agora forte. Ele
agachou-se ao lado do corpo, que se contorcia em seus últimos segundos de vida.
- Quase me esqueci, obrigada por seu silencio, mas eu andei
pensando e é melhor garantir-lo.
Ele levantou-se e saiu andando, deixando-a ao chão. Já não
havia mais vida naquele corpo. Ela não chegaria mais em casa, mas talvez não
quisesse. Talvez até preferisse morrer a ter que passar por mais dias chuvosos
imprevisíveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário