sexta-feira, 10 de junho de 2011

Só quero que você saiba (dedicado a Rapha, minha pequena escritora)

 Siena

Os pés deslizam pelo chão do grande salão, deixando visível a excitação das adolescentes. Seus vestidos majestosos lustram o caminho onde passam, deixando a marca da dança perfeita. A musica alta deixa o ar pesado. A iluminação dos grandes lustres refletem seus esplendor nas vidraças deixando o salão magico. Mas em dos cantos do jardim da imensa mansão, estava o mais belo anjo que os céus já tivera a audácia de enviar à terra. Luna estava escondida nas sombras. Ela só queria que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível.
***
Andando dentre as árvores iluminadas pelos lampiões e velas, Raphael tentava fugir de todo aquele tumulto, mas deparou-se com a sombra de uma mulher em seu caminho. Luna virou-se para fitar o intruso e foi hipnotizada pelos seus olhos instantaniamente. Conteve-se e perguntou-lhe.
- O que queres ?
-Porque insinuas que pretendo pedir-lhe algo?
- E não é ? Sempre querem algo de mim, e já lhe dou a resposta. De mim nada terás.
Raphael estava deslumbrado com a imagem da moça. Tinha os cabelos longos e loiros, e olhos verdes como água. Não resistiu em provoca-la.
- Se é assim que preferes. Acho que algum guarda poderá satisfazer minhas duvidas. Com licença.- virou-se e começou a andar.
- Espere - disse Luna resistente - me diga o que queres. - disse baixando o olhar, rendendo-se.
- Eu só quero - disse ele indo ao seu encontro - saber qual seria o nome dessa linda estrela com quem estou falando. E talvez saber o porque ela esta perdida aqui fora, e sozinha.
- Luna Mattuci - disse curvando-se - e só estou aqui, por não querer estar lá - disse apontando para a porta do salão- satisfeito ?
- Sou Raphel e ainda não estou satisfeito. Gostaria de saber... se queres companhia.
- As pessoas que andam comigo, costumam enlouquecer.
- Me responda . Existe alguma possibilidade de um louco enlouquecer ainda mais ?
- Talvez. - disse Luna , quase rendendo-se aos encantos de Raphael
- Então, vamos colocar a prova. Vamos ver se consegues me deixar mais louco do que já sou.
- Cuidado com o que dizes, depois que der o primeiro passo será difícil voltar. - disse rindo , com um tom de malícia na voz
- É o que veremos.

***
 No centro da pequena biblioteca, Luna lia seu lia em silencio, sustentando a leitura apenas com a luz que entrava pela vidraça, deixando bem claro que já havia amanhecido. A sonolência e a calmidade da manhã de domingo a fazia sentir bem. Esticou os braços e respirou o ar pesado da sala e se sentiu aliviada.
Pegou uma das pilhas de livros e levantou-se para guarda-los.
- Hey! - gritou Raphael
- Não esta vendo que é um local de silencio ?
- Mil desculpas - disse num sussurro, mas seus olhos sorriam.
- O que queres ?
- Pensei que essa fala fosse minha?
- Estou falando serio, ou achas que estou brincando?
- Calma, era só uma brincadeira.
- O que queres ?
- Só pensei que seria ótimo fazer uma caminhada, considere-se convidada.
-Porque eu iria?
- Porque você deu o primeiro passo , agora não há mais voltas. Você é quem disse.
-Que seja então.
***
 A manhã era morna, mas havia restigios de neblina nas bordas do lago. Eles caminhavam lentamente perto das bordas. As botas de Luna afundavam na terra fofa, e manchavam as beiradas de seu vestido, ela não se importava. De uma forma estranha era ali que ela queria estar.
O vento ressoou como notas musicais entre as árvores, e deixou algumas folhas secas pairando pelo ar, até tocarem a superfície do lago, formando pequenas ondas. Ela estava nostalgeada com a sensação de liberdade que não pode perceber o corpo de Raphael sucumbindo ao seu lado. Uma pequena falha no gramado que abria um caminho direto para o fundo do lago.
A primeira reação foi de choque, estatizada , não sabia o que fazer, não conseguia escutar os próprios pensamentos. Tudo estava acontecendo tão rápido mas tão devagar ao mesmo tempo. A agonia a dominou, mas não deve ter durado mais de 5 segundos. Ele não lutava contra a correnteza, que o puxava para baixo Sem pensar nas consequências, pulou para salva-lo. A agua fria não impediu seu corpo de afundar em busca do corpo e Raphael. A agua escura ocultava as correntes do rio.
Devem ter se passado alguns longos cinco segundos antes que ela sentisse os cabelos de raphael passando de leve sobre suas mão. Fez de tudo para agarra-los. Segurou firme o tórax dele e puxou-o para cima. O vestido dificultava o movimento de suas pernas, e o corpo desfalecido de Raphael só dificultava ainda mais. Mas ela não rendeu-se tão facilmente. "Vamos" pensou "Vamos, só mais um pouco".
 O ar  estava mais quente do que ela se lembrava. Puxou o ar com força, e sua garganta parecia queimar, ele não reagia. Levou-o o mais rápido que pode para a margem, e postou-o sobre a grama.
- Raph, por favor, Raph - ela chorava enquanto pressionava seu peito, na tentativa de ressuscita-lo - Vamos, por favor, vamos - o desespero a tomou, ela mal respirava. Suas lágrimas pesadas caiam sobre as roupas dele, lágrimas de desespero.
Como se tudo acontecesse em camera lenta, ela encostou seus lábios nos dele e soprou. Nada. O seu coração inanimado estava se rendendo, e ela mal podia sentir as mão por causa do frio. Não desistiu de reanima-lo, mas as tentativas já eram fracas , ela estava sucumbindo também. seus dentes batiam e suas pernas já não respondiam aos comandos.
Ele deu finalmente um suspiro, uma tentativa agoniante de salva-la , mas já era tarde demais, ela repousava suavemente em seu peito, estava dando seus últimos suspiros quando ouviu baixinho.
- Te amo minha estrela.
- Te amo meu céu.
Dois corações silenciaram aquela manhã, a voz de dois amantes calaram-se para escutar o fim da orquestra que o vento regia dentre as árvores. Apenas o fim do primeiro ato de um romance inacabado.

"E essa dor que sentimos hoje,                   
Servirá de conversa, no futuro"
"Mas amante pede asas ao cupido
Para voar muito acima disso tudo"